Um documentário que é uma lição para gestores e gestoras. Assim é possível resumir o longa-metragem “Abercrombie & Fitch: ascensão e queda”, dirigido por Alison Klayman, disponível no Netflix.
O filme conta a história de uma grife de luxo que fez sucesso nos anos de 1980 e 1990. No entanto, uma crise em 2006 expôs a política interna da empresa, que oprimia vários funcionários, disseminando inúmeros casos de racismo, discriminação e abuso sexual.
Fica a reflexão: como foi possível uma cultura organizacional, que ajudou a promover lucros nos negócios durante décadas, deixar um rastro de irregularidades que levaram à derrocada de um império do varejo?
Os líderes corporativos e qualquer pessoa que gerencie um local de trabalho podem absorver várias lições desse caso. Esse artigo da Forbes, escrito por Janice Gassam Asare, reúne três aspectos importantes. São eles:
1. Aprender com os erros do passado.
Fundada em 1892, a Abercrombie & Fitch foi mudando a estratégia do negócio ao longo dos séculos e se tornou um nome familiar no mundo todo.
De acordo com o artigo, a marca conquistou o imaginário juvenil, e atingiu o pico de popularidade no final dos anos 1990 e início dos anos 2000. No entanto, nas últimas décadas, a empresa mergulhou-se num mar de apuros, conforme é retratado no próprio documentário.
O caso de discriminação religiosa talvez seja o mais notável, pois ele acabou indo para a Suprema Corte dos EUA. A recusa da empresa em contratar uma mulher muçulmana, Samantha Elauf, que usava um hijab como parte de sua prática religiosa, violou a Lei dos Direitos Civis do país norte-americano.
“O documentário lançado recentemente não reflete quem somos agora.
Nós possuímos e validamos que houve ações excludentes e inadequadas sob a liderança anterior.”
Fran Horowitz, CEO da A&F, em e-mail para a produção do Netflix
Janice destaca que as organizações devem ficar atentas a esse tipo de postura ao se posicionar, pois alguns erros ficam para sempre na mente do público. “Qualquer tentativa de corrigir transgressões passadas cometidas por funcionários ou liderança corporativa deve envolver o reconhecimento e a apropriação do delito, não importa há quanto tempo tenha ocorrido”, afirma.
Vale lembrar que, com o advento das mídias sociais, os erros passados são facilmente acessíveis. O artigo inclusive pondera que isso não quer dizer que as corporações devam ser para sempre “canceladas” por seus equívocos anteriores. Mas, muitas vezes, nota-se que essas mesmas organizações envolvidas em escândalos querem virar a página, sem, ao menos, criar estruturas e sistemas que evitem a repetição dessas irregularidades.
Para Janice, além de fazer declarações corporativas, que, muitas vezes, são vazias, é primordial que as palavras precisam ser seguidas por ações sólidas para catalisar a real mudança.
2. A responsabilidade da liderança é vital.
No e-mail mencionado, Fran Horowitz afirmou em relação ao documentário: “desde que me tornei CEO em 2017, reformulamos a A&F e a transformamos num lugar de pertencimento. Desenvolvemos a organização, incluindo mudanças na gestão, priorizando a representação, implementando novas políticas, repensando nossas experiências de loja e atualizando a adequação, tamanho e estilo de nossos produtos.”
Outra lição que as organizações devem tirar do documentário é como a responsabilidade da liderança é vital, pontua Janice. Em 2005, a A&F instituiu uma política interna, chamada de “política de aparência”, que muitos alegam ter dado preferência a homens brancos nos cargos da empresa.
Segundo a autora, como resultado do processo, a empresa teve que criar um escritório de diversidade, um sistema formal de reclamação e pagar milhões de dólares aos candidatos que foram discriminados com base em raça ou gênero.
“As maneiras específicas pelas quais a empresa responsabilizou os líderes são vagas.
Para que quaisquer esforços de Diversidade e Inclusão sejam bem-sucedidos,
as organizações devem priorizar a responsabilidade da liderança.
Não importa quantas medidas estejam em vigor para aumentar a diversidade,
equidade, inclusão e pertencimento, sem responsabilizar os tomadores de decisão
e aqueles que estão no poder por suas ações e comportamentos, nenhuma mudança será viável.
Medidas de responsabilidade devem ser incorporadas ao tecido do sistema organizacional.”
Janice Gassam Asare em artigo para a Forbes.
3. A discriminação não é mais sustentável.
A A&F se envolveu em inúmeros casos de comportamento discriminatório em seus processos, procedimentos e políticas. O artigo cita uma uma entrevista de 2006, em que o ex-CEO Mike Jeffries afirmou:
“Somos excludentes? Absolutamente.
Essas empresas que estão com problemas estão tentando atingir todo mundo: jovens, velhos, gordos, magros. Mas, então, você se torna totalmente um careta. Você não aliena ninguém, mas também não excita ninguém.”
De acordo com Janice, de uns anos pra cá, nota-se que os consumidores não estão mais dispostos a tolerar o mau comportamento das empresas. Ainda mais nessa era atual, em que eles valorizam as marcas que falam abertamente sobre questões sociais e políticas.
No artigo, a colunista é categórica. “Comportamentos que passaram despercebidos em décadas anteriores não passarão despercebidos agora. A A&F tinha dinheiro, fama e status para limpar continuamente suas bagunças, mas, para marcas menores e menos conhecidas, uma falha em priorizar a Diversidade e a Inclusão levará a um fim iminente.”
Todos os anos, grandes e pequenas corporações devem auditar as políticas de suas empresas. Diante disso, a autora deixa algumas dicas:
- Não tenha medo de revisar práticas arcaicas e ultrapassadas.
- Convide um consultor de Diversidade e Inclusão ou um parceiro de Recursos Humanos para realizar uma auditoria com objetivo de verificar as áreas que precisam ser melhoradas.
- Recusar-se a evoluir deixará de ser uma prática sustentável; além de resultar em litígios onerosos, as empresas podem sofrer danos irreparáveis à sua reputação e imagem.
“Abercrombie & Fitch: ascensão e queda”
Onde assistir: Netflix.
Classificação indicativa: 14.