Depois de promover o single Chained to the Rhythm, com um lyric video charmosinho e criticamente contemporâneo, em que um hamster é constantemente alimentado por uma mão onipresente, Katy Perry volta com uma vertente ainda mais reflexiva no clipe da mesma música.
Essa pegada crítica nunca foi a onda da cantora, que, no início da carreira, bebeu muito na fonte da estética Pin-Up, misturada com a kawaii da cultura pop japonesa (a representante mais famosa no Ocidente é o desenho da Hello Kitty).
Agora, parece que o andar da carruagem não é movido só a algodões-doces e pirulitos.
É justamente num parque de diversão, nos moldes da Disney, chamado de “Oblivia”, que Katy Perry cultiva questionamentos sobre o American Way of Life, encarnando uma Dorothy contemporânea, de “O Mágico de Oz”.
Detalhe: o parque tem o mesmo nome da região que faz parte do jogo Pokémon. E as referências não param por aqui:
- Mathew Cullen, que dirigiu também o péssimo “Dark Horse” da cantora, parece que puxou muita coisa do episódio “Fifteen Million Merits”, da primeira temporada de “Black Mirror” em que as pessoas agem como se estivessem vivendo no modo automático;
- cenário, figurino e maquiagem lembram muito a refilmagem de “Mulheres Perfeitas, comandado por Frank Oz, que narra a história de uma comunidade, onde as personagens são condicionadas a serem modelos de esposas ideais;
- a felicidade fabricada nos musicais de Hollywood corre por todo o clipe, principalmente com fortes referências ao longa “Grease – Nos Tempos da Brilhantina”;
- os brinquedos como “catapultas”, lançando e separando os casais a esmo pelo céu, podem ser uma referência às relações líquidas (olha o Zygmunt Bauman, aí!);
- detalhe para o brinquedo mostrando o sonho da casa própria sendo desfeito na bolha imobiliária americana;
- a euforia efêmera causada pela nossa obsessão por curtidas nas redes sociais (enfiar isso dentro de uma montanha-russa foi genial);
- a entrada do rapper jamaicano Skip Marley, saindo da tela da TV e indo em direção a Katy Perry. Vemos ali que ela sai da ilusão. É uma mensagem clara de que os imigrantes fazem os americanos verem a realidade de outra forma.
No entanto, no final do clipe, vemos que, em tempos de Donald Trump, cair na real tem um gosto amargo.