Scream, nova aposta da MTV americana na produção de séries, é a receita de mexidão enlatado para conquistar a geração mais atual, abusando muito do pastiche ao tentar ressuscitar o gênero terror.
O seriado é uma colcha de retalhos, inspirado na própria franquia Pânico (I, II, III e IV), criação de Wes Craven (1939-2015) e Kevin Williamson. Wes Craven (Halloween, A Hora do Pesadelo) foi produtor executivo até falecer este ano, em decorrência de um câncer no cérebro. Já Kevin Willianson assinou a produção executiva nos dois primeiros episódios (repare que quando esse homem sai de cena, a coisa toda desanda lá no final).
Aliás, Scream é uma clara homenagem a vários slashers filmes, subgênero do terror que traz um serial killer assassinando vários jovens. Aí, agora, você se pergunta: mas Pânico já não fazia isso anteriormente? Sim, claro.
Só que agora surge um desafio. É possível criar uma slasher série? Esse questionamento revela-se no próprio segundo episódio do seriado, em que o personagem Noah (o ótimo John Karna) traz essa reflexão na sala de aula, uma das vastas metalinguagens presentes em Scream.
As referências aos filmes antigos se juntam às novas tendências da pós-modernidade: cyberbulling, conversas pelo celular, a cultura pop e um romance bissexual entre adolescentes.
A MTV, como não é boba, já que vem perdendo audiência entre a galera, apostou numa fórmula interessante desta vez.
Em momentos de tensão da história, hashtags sempre apareciam na tela para propor discussões nas redes sociais. Outra estratégia era aproveitar a trilha sonora e indicar no vídeo qual era o artista de tal música.
Mas até metade da primeira temporada, Scream vai bem. Talvez a saúde debilitada de Wes Craven tenha influenciado no roteiro (tenho minhas dúvidas se ele deixaria passar tanta “encheção de linguiça” pra resolver pontos soltos na história).
As pistas falsas (quem é o assassino) funciona em determinando ponto, mas depois tudo se torna previsível demais.
ATENÇÃO, CHUVA DE SPOILLER!
Encerrar a temporada com um desfecho igual a Pânico 3 é desperdiçar demais algo que poderia renovar o gênero e marcar uma entrada triunfal em seriados de terror.
Scream não surpreendeu ao explicar o motivo que fez a repórter Piper Shaw (Amelia Rose Blaire) ser a responsável por todos aqueles assassinatos. Já dava para sacar que Piper estava por trás do crime, pois não vinha merecendo muito destaque na trama e nenhum dos personagens chegou a suspeitar dela. Atrelar o lance a uma questão familiar foi um erro boçal, sem contar que esta história de meio-irmão abandonado e rancoroso já deu o que tinha que dar.
Se Piper fosse uma jornalista, no estilo da inesquecível e odiada Gale Weathers (Courtney Cox), como víamos em Pânico, faria mais sentido. Seria interessante ver a discussão sobre o sensacionalismo midiático de um repórter, em que ele matasse suas fontes, para ter uma boa história pra contar. É um pouco parecido com a assassina de Pânico 4 que queria ficar famosa, mas seria mais coerente, na verdade.
Scream trouxe também uma linha de suspense de “morre ou não morre nessa cena?” que motiva nos primeiros episódios, mas se torna repetitiva demais. Sim, meu caro, Piper deixou boa parte dos amigos da protagonista vivos no último episódio. Além do mais, não vá esperando um banho de sangue como em A hora do pesadelo, Sexta-Feira 13 e Halloween. Que venha a segunda temporada com mais molho de tomate!