William Shakespeare (1564-1616) deve ser um dos autores que foram mais adaptados para o cinema. Há uma contagem que estima mais de quatrocentos filmes, que usam o universo literário desse escritor inglês, em produções mais adolescentes e outras mais sérias.
A comédia “Muito Barulho Por Nada” ganha mais uma adaptação que chega aos cinemas nesta sexta-feira. Em 1993, a peça havia sido levada para as telonas, pelas mãos do elogiado diretor Kenneth Branagh.
Quem resolve se aventurar, agora, é Joss Whedon, que comandou “Os Vingadores” e vai cuidar da segunda sequência da franquia dos super-heróis. Ele também foi responsável pelo seriado juvenil “Buffy – A caça-vampiros”.
Mesmo assim, “Muito Barulho Por Nada” não viaja na onda hollywoodiana. E seu pecado, talvez, esteja em tentar pegar a prancha errada pra isso. Usa uma roupagem para se sustentar como algo mais alternativo, com elementos que não combinam.
O primeiro é o uso dos diálogos originais em um contexto atual. O texto, até então inteligente e mórbido, torna-se jocoso e inverossímil demais.
Utilizar o recurso literal shakespeariano, não se atentando para aquelas características de uma época, foi de uma preguiça tamanha ou puro esnobismo estético.
Os percalços sofridos por dois casais de amantes, com diferentes olhares sobre o amor, viram apenas um registro em preto e branco, num emaranhado de atuações mecânicas, sem o mínimo de graça e forçadas. Aliás, fica a dúvida por que o recurso em não fazer um filme colorido.
Em algumas cenas, certas interpretações não deixam “Muito Barulho Por Nada” ir por água abaixo e ajudam o filme a funcionar como drama. Mas isso se deve mais ao elo criado por Shakespeare para agarrar o público, por meio do sua habilidade como escritor.
Por outro lado, a veia cômica só se encontra em estado terminal, devido a um texto enunciado de forma tão decorada.
Joss Whedon acerta em cheio só na trilha sonora, criada por ele mesmo, sendo a sua admirável estreia na composição musical.
Supervisionado pelo experiente Clint Bennett, ele desenvolveu melodias e estruturas, além de criar novos arranjos para “Sigh no more” e “Heavily”, duas das canções que Shakespeare fez para a peça original.
Pelo menos nessa parte, a nova adaptação faz algum barulho e não machuca o espectador com tanto ruído.