A vida nem sempre imita a arte ou vice-versa.
A prova disso é a postura conservadora de quem brilha no universo artístico. É como se alguns planetas recebessem a luz do sol e mesmo assim não seguissem a própria órbita.
Clint Eastwood e sua oratória na comitiva republicana, contra o candidato democrata à releição, Barack Obama, se tornam um exemplo capcioso.
Nada contra quem prefere ir em direção à direita. Mas alguém consegue relacionar a carreira cinematográfica de Clint e suas posições conservadoras?
Claro que obra e mestre possuem alguma ligação, mesmo que fuja da obviedade. Por mais que seu conteúdo não seja autobiográfico, alguma ideologia percorre por ali.
Além do mais, o “Clint diretor” parece estar muito mais ao centro ou à esquerda do que aquele Clint do “privado”.
Aliás, há de se considerar que quando ligam os holofotes políticos, ele perde toda a brandura ou sensibilidade artística e vira um cawboy com retórica afiada.
Causa estranheza ver toda aquela armadura republicana e compará-la com a trajetória cinematográfica do diretor/ator, que é uma constante crítica aos valores e ao ideal de macho norte-americanos.
“Cavaleiro Solitário” (1985), “Coração de Caçador” (1990), “Os Imperdoáveis” (1992), “Sobre Meninos e Lobos” (2003), “Menina de Ouro” (2004), “A Conquista da Honra/Cartas de Iwo Jima” (2006), “Gran Torino” (2008) e “Além da Vida” (2011) e”J.Edgar Hoover” (2011) são algumas provas cabíveis.
Dá pra notar essa tendência contraditória em outros colegas. Há inúmeros artistas em que a vida pessoal ou seus discursos divergem totalmente da obra em si.
Nelson Rodrigues, Jack Kerouac, Jorge Amado (reza a lenda que ele tinha uma simpatia pelo Nazismo), Ernest Hemingway, Elvis Presley, Brigitte Bardot (sua causa em proteção aos animais se mistura com a paixão pela ultradireita francesa) e Charles Chaplin fazem parte do elenco.
Até o rock and roll, libertário e subversivo na sua essência, tem uma extensa lista.
Será um impasse entre ética e estética?
Somos cascas de cebola com várias camadas. Algumas são velhas, ficam impregnadas, já outras se descascam com mais frequência. Fica clara a dicotomia entre conservadorismo e conservante para colá-las no lugar.
O segundo mantém o alimento para ser consumido facilmente. O primeiro faz o mesmo com as ideias. Lembrando que ambos têm prazo de validade mas poucos percebem o mal cheiro que exala ao longo do tempo.
*A imagem do elefante na foto não é mera coincidência. O animal foi escolhido mascote do Partido Republicano.