Um fenômeno que ajudou o tecnobrega a ganhar proporções inimagináveis. Ontem, o Circo Voador, no Rio de Janeiro, recebeu o furacão paraense responsável por tudo isso: Gaby Amarantos.
A jovem dos olhos amendoados, lá de Juruna, finca suas raízes por meio de um repertório frutífero, boa parte do seu primeiro trabalho na carreira solo, o cd Treme.
A abertura veio com uma homenagem à Clara Nunes, num emocionante coro de Canto das Três Raças. Hits como Faz o T, Xirley, Beba Dolda e claro, Ex Mai Love, causaram um efeito no público quase inenarrável. É como se o Circo Voador virasse o Monte Olimpo e recebesse uma festa pagã dos deuses.
Não é só a música tecnobrega que define Gaby Amarantos. Gaby é bolero, é rock, é pop, é merengue, é lambada, é lundu.
Ela arrisca até uma versão de Ring My Bell, de Anita Ward, com um refrão “cafajestamente” abrasileirado. Tudo milimetricamente rearranjado por uma competente banda experiente e enigmáticas backing vocals.
E haja fôlego para seguir o ritmo dessa encapetada no palco. Sua deliciosa forma curvilínea parece não encontrar barreiras em mais de duas horas de show e revela uma pliometria pra lá de pecaminosa. Tudo regado a uma poderosa voz.
Mesmo assim o show merecia ter uma pirotecnia e cenário mais elaborados, que ao menos conversassem na mesma linguagem do exuberante figurino da cantora. A iluminação no palco tão pouco ajuda a reforçar isso.
Se essa detestável nomenclatura MPB viveu anos inflada por promessas femininas de uma isomorfia musical tediosa, Gaby, como tantas poucas nesse cenário atual, suprime qualquer mesmice e sacode o que parecia até então fácil de identificar.
Gaby realmente faz o palco tremer. Ela é o glitter misturado à areia do sertão que faltava no nossa vasta vegetação musical.