Contar histórias dramáticas que são torturadas ou afagadas pelo abuso de drogas não é algo novo no cinema nacional.
Mas se antes vinha aquele tripé favela/violência/fome como fio condutor agora o cenário começa a mudar.
Aliás, dá pra notar o quanto é difícil encontrar um filme que retrate o assunto sem cair na violência e principalmente sem ser moralista.
O Bicho de Sete Cabeças e Nina são algum dos exemplos que conseguiram sair do lugar comum. Mas mesmo assim, o drama humano contido nesses filmes vinha com uma alta carga de impacto psicológico.
É bom notar que o tema começa a invadir com frequência as salas do público de massa.
Não é à toa que Paraísos Artificiais entra para o hall. A história intrigante de três amantes interpretados por Nathália Dill, Luca Bianchi e Livia Bueno é apenas o pano de fundo. O filme de Marcos Prado traça uma perspectiva multifacetada por trás do abuso de drogas em raves.
Não vamos encontrar somente dois lados da mesma moeda e tão pouco um filme sobre angústia existencial da classe-média, que se conforta no uso de GHB, cocaína ou ecstasy. Há um interessante aditivo emocional, social e cultural que ajuda a compor a faceta dos personagens da trama.
A narrativa, a fotografia e a trilha sonora ajudam a compor uma viagem aos olhos e aos ouvidos, só que o roteiro derrapa um pouco por tentar dar conta de tanta intensidade em histórias que se cruzam.
O filme estava com alta munição, mas sem saber para onde atirar. O que costuma ser a pedra no sapato das histórias paralelas contadas na sétima arte.
Se não tiver um roteiro e uma montagem bem amarrados, a trama se perde e o espectador fica meio perdido.
De certa forma, Marcos Prado acerta na direção apesar de ter desses momentos irregulares.
A combinação que o diretor faz com fotografia e trilha prova a evolução da nossa cinematografia.
O ápice (atenção: spoiler) é quando o filme retrata a morte de um dos seus personagens embalada com uma profusão de cenas regadas na euforia de uma festa rave. O dualismo vai além da estética, é meramente instigante.
Há inúmeras cenas de sexo que são irrigadas por dramas humanos. E dramas humanos sem receituário.
Problemas sem solução, caminhos sem saídas, amores com interrogações, sexualidade sem bula. Perguntas sem respostas que boa parte do público não está acostumada a enfrentar quando vai ver um filme.