Quem nunca sofreu por amor? Ao ponto de deste sentimento tomar todo o corpo e entrar numa profunda crise existencial? Esse é o fio condutor do francês Em Paris, de Christophe Honoré.
O filme viaja pelas aventuras e desilusões amorosas de dois irmãos de personalidades opostas.
Paul (Roman Duris) vai morar na casa de seu pai, em Paris, deprimido após o término do namoro. Jonathan (Louis Garrel), o irmão mais novo, mulherengo , junto do pai, vai fazer de tudo para ajudá-lo a sair da crise.
Em Paris é original, sem ser pretensioso. É de uma cumplicidade confortante, embora seja um soco no estômago no romantismo.
Detalhe para o narrador, Jonathan, que conversa com o espectador já no início da trama.
Mas o filme não é de fácil disgestão. A história é um delicioso e complicado quebra-cabeças sobre as desilusões amorosas. Não espere encontrar um divã ou um ombro amigo nos seus personagens.
Deixando a reflexão sobre desilusões de lado, o que mais encanta no filme é a relação entre os irmãos.
De uma amizade cativante, Em Paris, mostra que nós, homens, podemos desenvolver a afetividade tão sincera. Retrata “o mundo dos meninos”, com seus defeitos e qualidades, sem ser tendencioso.
E diante de dois filhos, com personalidades tão antagônicas, o pai, de certa forma, vira o ponto central na relação, uma âncora de um navio sem rumo, que, às vezes, parece se afundar.
É interessante esse jogo de Honoré, que a cada minuto, prevê uma tragédia, o espectador fica apreensivo, mas o diretor detém de uma sensibilidade e criatividade incomum para criar ironia, justamente, nesses momentos, e reverter nossas emoções.
Em Paris foge do clichê. Escapa da superficialidade. Introjeta-nos nas amarguras e na arte de viver e sobreviver aos percalços. Nada mais sublime que percorrer isso numa Paris natalina.