Pense rapidamente: o que o Rei do Pop Michael Jackson, o cantor Lionel Richie e o produtor musical Quincy Jones têm em comum? Além de serem artistas reconhecidos, com vários prêmios na bagagem e terem se tornado referências no ramo da música, os três protagonizaram um exemplo formidável de liderança no documentário “A Noite que Mudou o Pop”, disponível no Netflix.
Dirigido pelo cineasta vietnamita-estadunidense Bao Nguyen (“Be Water” e “Nuoc 2030”), o filme acompanha a longa madrugada, em que mais de 40 artistas se reuniram, para gravar a canção “We Are The World”, em 1985. A música, que se tornou um hit atemporal, foi lançada com o objetivo de angariar fundos para combater a fome na África.
Protagonismo em evidência
Michael Jackson, além de cantar, também compôs a letra junto de Lionel Richie, que emprestou a voz e atuou como supervisor/coordenador da empreitada. O papel de ambos revela que ser um líder nato envolve, inclusive, colocar a mão na massa e ir além das expectativas.
Coube a Lionel a missão (quase impossível) de organizar os mínimos detalhes, para que tudo pudesse ocorrer da maneira mais ágil possível. Diante de um cenário desafiador: muitos daqueles artistas escolhidos estariam na premiação do American Music Awards (AMA), justamente, na noite da data escolhida para gravação. E detalhe: Lionel era também o mestre de cerimônias do evento.
Entra em campo outro nome. Quincy Jones, que tinha ali em mãos um desafio colossal: administrar o talento de uma equipe tão diversa, com histórias e habilidades tão únicas. Profissionais de alto calibre que nunca tinham trabalhado juntos. Faziam parte:
Stevie Wonder, Paul Simon, Kenny Rogers, James Ingram, Tina Turner, Billy Joel, Diana Ross, Dionne Warwick, Willie Nelson, Al Jarreau, Bruce Springsteen, Kenny Loggins, Steve Perry, Daryl Hall, Huey Lewis, Cyndi Lauper, Kim Carnes, Bob Dylan, Ray Charles, Dan Aykroyd, Harry Belafonte, Lindsey Buckingham, Mario Cipollina, Johnny Colla, Sheila E., Bob Geldof, Bill Gibson, Chris Hayes, Sean Hopper, Jackie Jackson, La Toya Jackson, Marlon Jackson, Randy Jackson, Tito Jackson, Waylon Jennings, Bette Midler, John Oates, Jeffrey Osborne, Anita Pointer, June Pointer, Ruth Pointer e Smokey Robinson. Ufa!
Diante desse time estelar, não foi à toa que Quincy Jones teve a perspicácia de escrever e colocar na entrada do estúdio o cartaz com os dizeres: “Deixe seu ego na porta”. E outra atitude de mestre foi ter chamado para o estúdio duas peças-chave que tiveram a ideia de montar um projeto desse gabarito:
- O cantor e ativista Harry Belafonte, morto em abril de 2023. Ele foi quem procurou Lionel Richie para dar o pontapé inicial.
- Bob Geldof, que iniciou esse tipo de movimento social e musical, com a gravação de “Do They Know It’s Christmas?”, cantada por uma banda de astros da música britânica: a Band Aid (formada por ele, Bono Vox, Boy George e George Michael). Com seu discurso empoderador, Bob cativou os artistas pelo lado emocional e estimulou o engajamento de todos e todas ali presentes.
Gerenciamento de crise
Mas nem tudo foram flores. Sim, teve gente que não compareceu, gente que desistiu e saiu no meio da gravação, gente com certa mágoa por ter se sentido usada e gente interrompendo o processo com ideias que não casavam com o propósito do trabalho. E Quincy Jones, Lionel Richie e Michael Jackson, cada um à sua maneira, contornando essas situações e revendo as suas decisões.
E teve gente que quis desistir de participar horas antes de iniciarem as gravações. Como foi o caso de Cyndi Lauper. E coube a Lionel Richie usar seu poder de convencimento ali.
Quem ficou de fora e quem entrou
Há décadas, sempre pairou no ar uma dúvida: por que nomes como Prince e Madonna não participaram da tal “gravação secreta”, como foi chamado, na época, esse projeto (vale lembrar que a informação não circulava na mesma intensidade como atualmente vemos nas redes sociais).
Prince, que, pela imprensa, era, constantemente, colocado como rival de Michael Jackson, chegou a ser convidado e, até o último minuto, os organizadores tentaram trazê-lo para a iniciativa. Para substituí-lo na participação solo da gravação, o trio de gestores optou pelo nome do cantor Huey Lewis.
Já Madonna, que até estava presente naquela noite do AMA, não foi convidada, porque o empresário Ken Kragen preferiu Cyndi Lauper no lugar. Atitude que causou bastante discordância entre ele e uma produtora.
Muitos dos artistas que gravaram “We Are The World” não estão mais vivos. No entanto, o documentário inclui depoimentos do próprio Lionel Richie (também produtor do longa-metragem), Bruce Springsteen, Huey Lewis, Dionne Warwick, Cyndi Lauper, Kim Carnes, Bob Dickinson, Tom Bähler, Humberto Gatica e Sheila E.. Tudo isso misturado a imagens de arquivos dos bastidores da gravação. É interessante perceber como cada um lidou com suas próprias inseguranças e certezas naquela madruga exaustiva, porém gratificante.
O que mais você pode aprender ao assistir ao filme:
- como a liderança pode ser motivadora e ajudar a equipe a alcançar as metas desejadas;
- como exercer a habilidade do convencimento sem impor uma ideia;
- como uma equipe tão diversificada e engajada contribui para inovação!