“Nesta casa, ocorreram crimes horríveis.” Lembro desta frase em um dos trailers de Psicose (1960) – aliás um dos mais criativos que já vi – de Alfred Hitchcock.
Quem entoa a sentença é o próprio diretor que anda pelo ambiente cenográfico apresentando, durante seis minutos, a residência e o hotel da família Bates.
“Psicose” é um clássico indispensável, baseado no romance homônimo escrito por Robert Bloch, que narra a história de Norman Bates e sua mãe Norma, ambos vivendo numa casa ao lado do hotel que administram.
A rotina, aparentemente tediosa, é chacoalhada até uma hóspede – uma ladra que acaba de roubar um banco – ser assassinada dentro do banheiro do estabelecimento.
A série “Bates Motel” destrinchou uma história que era fantasticamente aterrorizante e transformou-a numa saga repleta de reviravoltas bem amarradas e verossímeis, com personagens angustiantes e complexos, num enredo atual e reflexivo.
As cinco temporadas, com 10 episódios cada, vai a fundo ao mostrar como os Bates construíram uma relação passional, emblemática, assustadora, doentia e mortal.
A atriz Vera Farmiga e o ator Freddie Highmore vivem mãe e filho. A dupla e proporciona atuações estarrecedoras devido ao aspecto fidedigno das relações contemporâneas.
A intimidade dos Bates não é muito diferente do que está ao nosso redor.
Um mundo em que desejos e vontades se misturam e se reprimem num barril de pólvora à base de esquizofrenia, sociopatia e neurose.
Por outro lado, Bates Motel conseguiu ir além da complexidade dos fatores psicológicos do ser humano.
Vítimas e vilões são um só diante de um patriarcado que sucumbe e engole tudo ao redor, numa sociedade moralista e opressora que alimenta, aprisiona e mata seus próprios monstros.