Minhas primeiras impressões sobre o Rebel Heart (2015), de Madonna, já que vazou, hoje, o restante das músicas da versão Super Box Deluxe (com 25 canções).
Nota-se um trabalho nada convencional, porém árduo e sofisticado, que dialoga de maneira bem original com o passado e o futuro.
Iluminatti, produzida junto com o gênio Kanye West, resume bem por onde caminha toda a criatividade deste trabalho. Letras mais densas que duelam com a sonoridade orgânica.
Madonna se juntou a um time de produtores e compositores de estilos bem diferentes: Sophie, Natalia Kills, MoZella, Ryan Tedder, Blood Diamonds, Billboard, Diplo, Avicii e DJ Dahi. Há também colaborações de Nicki Minaj, Chance The Rapper, Nas e o boxeador Mike Tyson.
Ainda bem que ao produzir a maioria das canções, ela deixou sua marca: um disco com o som progressivo, de várias nuances, chegando até mesmo a antecipar tendências musicais, coisa que a Rainha do Pop não fazia desde Hard Candy (2008).
Rebel Heart também é infinitamente superior ao penúltimo trabalho, como se fosse uma evolução sonora e conceitual do MDNA (2012). Lembrando que este cd foi uma releitura musical dos 30 anos da carreira. Mesmo assim, ele tinha algo de embrionário ali.
Voltemos a Rebel Heart! Queen, Beautiful Scars, S.E.X., Holy Water, Inside Out e Best Night parecem ter saído do que há de melhor nos álbuns mais experimentais: Erotica (1992), Bedtime Stories (1994), Music (2000) e American Life (2003).
Entretanto, RH não finca o pé no passado. Ele inova ao trazer incursões pelo reggae/ska e trap (Bitch I´m Madonna e Veni, Vidi, Vici); electropop e house (Devils Pray); eletrocountry (Borrowed Time, Bodyshop) e, por incrível que pareça, acerta no rap com Iconic e Unpolagetic Bitch.
A irônica Autotune Baby causa estranheza com aquele bebê chorando em algumas partes. Mas, insistindo muito, ela se torna a coisa mais divertida e louca de se ouvir.
Essa sonoridade tão multifacetada do álbum talvez seja reflexo das batidas de um coração bombardeado por inúmeras experiências pessoais. Madonna é fortemente autobiográfica nesse novo trabalho.
Dá pra sacar que disco emana uma dicotomia do amor. Graffit Heart clama por isso: “Love is pain and pain is art. Show me your graffiti heart”.
O seu lado mais obscuro, porém, traz decepção e desilusão: Living For Love e Addicted dão o recado de como o amor pode ser traiçoeiro e vingativo. O álbum é um mergulho nesse abismo romântico e virou mesmo um diário da cantora.
É uma queda livre que causa êxtase como descrita em Hold Tight. Aquela adrenalina de se apaixonar por algo que você não sabe como vai terminar.
As composições de Madonna evoluíram bastante. Rebel Heart, Messiah, Wash All Over Me, Joan of Arc, Heartbreak City e Ghosttown são baladas imbatíveis, como ha muito tempo não se ouvia.
Separações parecem ter sido um processo doloroso para Rainha do Pop, causando efeitos colaterais até hoje.
Será um coração rebelde que teima insistir e em acreditar num amor que causa dor e alegria?