O velho e bom Tim Burton está de volta. Esqueça mesmo seu último filme, Alice no País das Maravilhas, que virou quase uma sessão pra dormir e trouxe diluído o universo autoral deste diretor.
Agora sua marca sombria se reascende intacta. O responsável por isso é Sombras da Noite, produção baseada numa série de tv norte-americana que foi exibida entre 1966 e 1971. A história de uma família nada convencional e muito esquisita ganhou ares cômicos dosados com o clima taciturno e bizarro.
Sombras da Noite é recheado de referências. Além de inserir elementos de uma série que já tinha áurea cativa, Tim Burton cultua simbologias que estiveram presentes em Nosferatu, A Família Addams e A Morte Lhe Cai Bem.
Quer homenagem melhor do que ter o ator Christopher Lee (o lendário Drácula), pela quinta vez, fazendo uma participação em um filme do diretor? Tim Burton parece mesmo não gostar de mexer no time, não importa se está ganhando ou não.
Suas antigas parcerias voltam funcionar como nunca. Johnny Depp, em seu oitavo trabalho com Burton, mostra mais uma vez que tem talento para comédia ao viver Barnabas. Até que no início da trama, o ator aparenta trazer resquícios de Jack Sparrow, da saga Piratas do Caribe. Mas depois sua atuação flui e acerta na composição do personagem.
Helena Bonham Carter, na sétima colaboração com o diretor (e não se sabe até então se eles continuam casados, rumores indicam que eles não estão mais dormindo na mesma cama) está incrível como a psiquiatra drogada, dra. Julia Hoffmann.
Mas como na maioria dos filmes, em que se tem vários personagens muito bons, se estendeu um pecado condenável. Faltou espaço dramático para outros atores. Neste caso, Michelle Pfeiffer (segundo trabalho com Tim Burton) e Jackie Earle Haley (Freddy Krueger de A Hora do Pesadelo) poderiam crescer mais nos papéis de Elizabeth Collins e Willi Loomis, respectivamente. E nem se pode esquecer de Jonny Lee Miller, conhecido por interpretar o protagonista da série Dexter, mas que ficou solto ao longo da história.
Problema não só para os da velha-guarda. Os ótimos novatos Chloe Moretz, como a despachada Carolyn Stoddard, que traz um dos melhores momentos cômicos, e Gulliver McGrath, que tem uma capacidade dramática da dar inveja, poderiam alçar voos maiores também.
Talvez o deslize seja o fato que Tim Burton deu muita ênfase no início para a Victoria Winters, interpetada por Bella Heathcote. Personagem que depois perde totalmente o rumo no meio da trama, expondo um dos entraves do roteiro. Agora, se teve uma escolha certeira foi Eva Green para viver a vilã, Angelique Bouchard. Um dinamite encorpado em tanta sensualidade, elegância e malvadeza de novela mexicana.
Infelizmente, Tim Burton desperdiçou algumas cenas. Nada engraçada aquela entre Angelique e Barnabas quebrando o escritório para fazer sexo. Ficou previsível e fora do tom. E nem mesmo a rápida aparição do roqueiro Alice Cooper ficou indispensável. Mas há outras cenas marcantes como a de Barnabas acordando na década de 1970 e descobrindo um mundo novo.
Aliás, esse é um dos grandes acertos do diretor. A ambientação que a direção de arte proporciona é espetacular. Isso recrudesce porque ela é bem casada com uma trilha sonora perfeita e combinada com uma maquiagem impecável. Recurso que ajuda inclusive a reforçar às inúmeras referências cinematográficas presentes ali.
Entre erros e acertos, Tim Burton ganha mais pontos do que perde porque foi fiel ao seu universo particular. E isso hoje em dia está cada vez mais em desuso no cinema. Estão ali todos os elementos que são característicos do próprio diretor e que vão fazer a alegria de quem é fã.