A nova adaptação da história da princesa “alva como a neve, rubra como sangue e de cabelos negros como o ébano da janela” está longe de ser um filme para crianças.
Esqueça o que você viu da montagem animada dos estúdios Disney ou leu nos livros infantis. Branca de Neve e o Caçador é um espetáculo do gênero horror: sombrio, dramático e perspicaz ao contar o que estaria por trás daquele conto de fadas.
O filme de Rupert Sanders costurou inúmeras referências das mitologias da região nórdica e reuniu algumas modificações feitas pelas adaptações albanesa e russa, se distanciando da versão apresentada pelos Irmãos Grimm.
Há de se destacar que os irmãos apenas focaram a versão mais popular tradicionalmente passada pela cultural oral alemã no século XIX.
Boa parte do clima tempestivo e angustiante se deve ao fato do diretor construir uma personagem forte e decisiva em toda trama. Não, não é a Branca de Neve, e sim, sua antagonista, a Rainha, vivida pela impecável Charlize Theron.
A atriz sul-africana personificou de forma ímpar a maldade de uma déspota (qualquer alusão aos ditadores atuais é mera coincidência?), misturando elementos na medida certa: narcisismo, histerismo, neurose, megalomania e psicopatia.
Mas nem pense que irá odiar a Rainha Ravenna durante toda trama. É aí que está uma das grandes sacadas do filme.
Ravenna exerce fascínio, não só pela sua estética visual composta por um figurino minimalista e por elementos da cultura pop, ou até mesmo pela beleza estonteante de Charlize Theron.
Nota-se o árduo processo de desenvolvimento da personagem. Os nossos sentimentos são coadunados conforme os da Branca de Neve: vai de raiva à misericórdia.
Entretanto, a escolha decepcionante para encarnar a protagonista foi o calcanhar de Aquiles desta produção. Kristen Stwart até se esforça bastante, surpreende em algumas cenas mais dramáticas, mas deixa a desejar em outras.
A personagem principal exige uma atriz de beleza ao menos compatível com da vilã, infelizmente, não é o caso. Kristen é bonita, mas não como o papel determina (e antes que os fãs dela me chicoteiem: eu sou admirador dela também).
Ela ainda traz cacofonia de seus trabalhos anteriores. Bella Swan, de Crepúsculo, e Joan Jett, de The Runaways, ressuscitaram em Branca de Neve. Pelo visto, Kristen é o tipo de atriz que se dá melhor em trabalhos mais alternativos, mas ainda precisa de maturidade dramática.
Mesmo com essa incongruência, é interessante notar que o blockbuster deixa de lado o romance que Hollywood sempre enfiou goela abaixo nos espectadores.
Quem for ao cinema esperando o príncipe encantado salvando a Branca de Neve vai se iludir bastante.
Pelo contrário, a princesa se envolve em um triângulo amoroso e parece gostar bastante disso.
Prepare não o coração, e sim a cabeça e o estômago, porque além disso, o filme pincela feminismo, contexto político atual e o inconsciente psicanalítico.