Das produções que concorrem à cobiçada estatueta do Oscar de 2020, “O Escândalo” chama atenção por tocar numa ferida para o universo corporativo e, até mesmo, para a indústria do cinema: os assédios moral e sexual no trabalho.
Dirigido por Jay Roach, com roteiro de Charles Randolph (A grande aposta – 2015), o filme está na disputa em três categorias: maquiagem, atriz (Charlize Theron) e atriz coadjuvante (Margot Robbie).
Nicole Kidman ajuda a formar o trio de protagonistas que dá vida às jornalistas que ousaram enfrentar Roger Ailes, co-fundador do canal de televisão norte-americano Fox News. A denúncia das apresentadoras de TV abriu porta para que outros casos de abusos nos bastidores da emissora viessem à tona.
A história, baseada em fatos verídicos, ocorreu em 2016. Foi um ano antes do movimento #MeToo ganhar espaço na mídia, relatando as acusações de assédio sexual relacionadas ao produtor de cinema Harvey Weinstein.
O caminho do assédio
“O Escândalo”, de maneira bastante didática, explica como os assédios moral e sexual vão ganhando forma, força e seus efeitos dentro da cultura organizacional de uma grande corporação.
O espectador é levado a acompanhar, de perto, como se fosse uma testemunha ocular, o sentimento de culpa que cai sobre as mulheres quando sofrem o abuso, a falta de empatia dos colaboradores (e de muitas colaboradoras) e o erro da empresa em não dar ouvidos às primeiras denúncias.
Dever de casa
Um levantamento realizado pela Talenses revela que, entre 3.215 entrevistados, 34% das mulheres já sofreram algum tipo de assédio sexual no ambiente corporativo. Entre os homens, o número chega a 12%.
Não é à toa que o assunto é realmente sério e caro para as empresas. Basta olhar a quantia que a Fox pagou para uma das vítimas de Roger Ailes.
E tampouco é um tema que mereça ficar às cegas na cultura organizacional. As empresas podem abordar as questões por trás dos assédios moral e sexual por meio de workshops, palestras e acesso à informação sobre o assunto.
O primeiro passo começa na mudança de algumas posturas que, até então, são compreendidas como normais em muitos ambientes corporativos como:
- quando homens passam a interromper o discurso de uma mulher, de forma ininterrupta (manterruping);
- quando homens passam a explicar o óbvio a uma mulher (mansplaining);
- quando homens se apropriam de uma ideia de uma mulher e não dão crédito a ela (bropriating);
- quando homens levam a mulher a achar que está louca ou equivocada sobre algo, quando, na verdade, ela está certa (gaslighting).
Cabe às empresas dar importância aos seus canais de denúncias, apurá-las e cuidar da cultura organizacional para que ela não cultive o machismo, a intolerância, a discriminação e o preconceito.