“Meu pai e meu avô eram homens importantes e poderosos, homens à moda antiga, respeitados sem que precisassem falar muito. A única pessoa que enfrentava meu pai, era minha mãe, uma mulher forte e bastante autoritária, disfarçada de submissa. Quando pequeno, eu queria muito claramente imitar aqueles homens poderosos e viris. Desde muito cedo, procurava me vestir e me pentear como eles, mas, no fundo, eu gostava mesmo de brincar, de inventar coisas. Nada disso, porém, combinava com os homens da minha família…(hoje) quando preciso ir a um compromisso social, quando tenho que competir no esporte ou quando tenho que negociar com homens poderosos, acabo conseguindo, mas termino esgotado, não consigo dormir à noite e, quando durmo, tenho pesadelos horríveis”.
Será que todo homem consegue falar de si mesmo da forma que vemos no relato acima? Expor suas fraquezas e ainda pedir ajuda? E por que será que muitos ainda sentem vergonha de mostrar afeto entre eles mesmos? Ou mesmo a renegar modos até então considerados femininos?
Uma especialista foi atrás dessas respostas. A psicanalista Malvina E. Muskat reuniu este e outros depoimentos, durante anos de entrevistas, com grupos de homens, de 20 a 60 anos. Sua pesquisa resultou no livro “O homem subjugado – os dilemas da masculinidades no mundo contemporâneo”.
Na obra, ela destaca que, por mais que eles tenham suas diferenças, todos carregam uma visão universal sobre masculinidade que trouxe impactos nocivos em vários momentos da vida de cada um.
Homem não chora?!
Homens se matam e matam uns aos outros. Homens matam mulheres. Homens colocam a vida em risco pela honra. Concorda? E olha que os números não deixam mentir. Veja só…
- Do total de homicídios e acidentes, no Brasil, 83% das vítimas são homens.
- Eles se suicidam quatro vezes mais que as mulheres.
- Quando sofrem abuso sexual, eles demoram, em média, 20 anos para falarem sobre o assunto.
- Três em cada 10 homens possuem o hábito de se abrir para os amigos.
- Homens são 95% da população prisional brasileira.
Esses dados são citados no documentário “O silêncio dos homens”, disponível, de graça, no YouTube, promovido pelo site Papo de Homem. Clique aqui para assisti-lo.
A missão
Como sensibilizar os homens a entenderem a si mesmos diante de uma sociedade que os isola de suas afetividades e cultua o poder, a bravura, a braveza e a violência como únicos sinônimos de masculinidade?
Um dos caminhos é o debate, ouvindo as percepções de cada um, e pensar, com homens e mulheres, juntos, uma reeducação de pensamentos, ética, valores e morais.
*Foto: Serkan, via Pexels.