Desde Cidade de Deus, não houve filme brasileiro tão arrebatador, autoral e necessário. Bacurau é cinema vivo que percorre na veia e na pele do espectador, diante de um Brasil moribundo e anestesiado.
Ao lado de Juliano Dornelles, Kleber Mendonça Filho consegue, mais uma vez, a proeza de criticar o sistema, dialogando esteticamente com seus dois filmes antecessores: Aquarius e O Som ao Redor.
Só que Bacurau traz doses cavalares de política e revolução popular numa pegada universal.
A história gira em torno de um Brasil distópico, em frangalhos, pós-apocalíptico, regado à escassez de água e atropelado pela cultura armamentista norte-americana.
Como uma mísera cidadezinha do interior vai conseguir articular uma resistência ao massacre colossal que se aproxima?
“Bacurau” chega a ser magnífico por reproduzir inúmeras camadas sociais para concluir uma resposta, bebendo em várias fontes, num mergulho visual, frenético e estarrecedor.
É o faroeste vingativo de Quentin Tarantino, é a ficção científica ácida de Stanley Kubrick, é o realismo fantástico de Steve Spilberg, é a narrativa sincopada de Akira Kurosawa. É o “Encouraçado Potemkin”, de Serguei Eiseinstein. É “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha.
É Kleber Mendonça Filho mostrando ao mundo os horrores de um futuro não muito distante, abrindo largada para uma ponta de esperança e luta.
Uma aula de cinema e política atemporal.