Você sabia que não se fala índio e, sim, povos originários ou povos indígenas? Conhece os termos que precisam ser evitados quando o assunto envolve mais de 900 mil indígenas que vivem no Brasil? Pensando nesses e outros temas, o Instituto Federal de Roraima (IFRR) disponibiliza, gratuitamente, a Minicartilha Antirracismo Indígena.
O intuito da publicação é ajudar a promover o respeito aos povos originários e chamar atenção para expressões consideradas racistas e/ou pejorativas que não devem ser mais adotadas no dia a dia. O material é resultado de um projeto de pesquisa acadêmico que teve como objetivo investigar a existência de atitudes e falas racistas contra indígenas, principalmente, no ambiente universitário.
Segundo matéria publicada no site do Instituto Federal, a partir das primeiras etapas de execução do projeto, já foi possível produzir a cartilha, criada para auxiliar estudantes indígenas e não indígenas a lidarem com o racismo no IFRR, disseminando, assim, o conhecimento para os demais setores da sociedade.
“Como a existência e a evolução de várias gerações só foram possíveis devido aos esforços de seus antecedentes, olhar o passado, de maneira respeitosa, já pode nos levar a entender o presente e, também, fazer apontamentos para o futuro.”
Confira abaixo alguns trechos da cartilha.
Chamar indígena de “caboco” (caboclo)
“Em Roraima, o termo ‘caboclo’ (deformado para ‘caboco’) refere-se àqueles indígenas considerados ‘civilizados’. Em outras palavras, ‘caboclo’ é uma expressão que diminui a atuação social do indígena, bem como coloca-o numa posição inferior, simplesmente, por manter os seus laços culturais, seja por suas vestimentas, fala, crença ou mesmo, comportamentos. lsso tem nome: é racismo.”
“Para você que é indígena: Não é só uma palavra ou uma brincadeira. Toda a construção do seu povo, seus valores e culturas fazem parte de quem você é. Por isso é seu direito manifestar incômodo e exigir que tal expressão não seja usada para se referir a você ou aos seus semelhantes.”
“Para você que não é indígena: Talvez você não soubesse que a palavra ‘caboclo’ tem sentido pejorativo. Porém, uma vez em contato com essa obra, além de saber, você também recebe a missão de coibir seu uso. Converse com seus amigos, familiares e pessoas íntimas sobre o significado da expressão e por que ela deve ser retirada do vocabulário. Atitudes assim ajudam a desenhar uma sociedade menos racista e mais inclusiva.”
“Desvalorizar o indígena, dizendo que ele não é capaz de ter aquilo que uma pessoa branca possui: sobre cortes/cores de cabelos, bens materiais.”
“O ato de ofender ou desvalorizar um grupo de pessoas, julgando do que ele é ou não capaz, também é uma forma de racismo. Aqui, inclusive, cabe mais uma reflexão: sempre ficamos estarrecidos ou enojados quando vemos ou ouvimos ofensas racistas a judeus, por exemplo. Nosso senso crítico, logo, nos diz: ‘Não é possível que ainda existam pessoas que pratiquem esse tipo de ato’. Então, por que não sentimos o mesmo quando vemos um indígena sendo desvalorizado ou passando por alguma situação humilhante? Pense nisso!”
Confira outras falas a serem evitadas:
- “Dizer que o indígena não poderia estar morando na cidade e deveria estar morando no mato.”
- “Que o indígena não poderia usar dinheiro, já que ele deveria sobreviver da caça, da pesca e de frutos da natureza.”
- “Que o indígena não tem habilidade para ocupar cargos como: professor, advogado, médico, motorista, empresário, entre outros.”
- “Que indígenas são sujos devido às suas pinturas corporais.”
- “Que indígena é burro, ignorante e causa desconforto para a sociedade, impedindo seu desenvolvimento. Ou muito pior que isso: que o povo indígena não deveria existir.”
Para saber mais sobre o assunto, faça o download da Minicartilha Antirracismo Indígena.
E o tema não para por aqui. Esta matéria do site BlendEdu traz outros termos que devemos evitar:
- “Tribo: em geral, é utilizada para descrever os povos sob um olhar ocidental e reforça um estereótipo de que são selvagens. O correto é “aldeia” ou “comunidade”, além de buscar citar a etnia.”
- “Índio: palavra que também reforça a ideia de que indígenas são primitivos. O certo é ‘indígena’, que significa ‘aquele que está ali antes dos outros’ ou ‘natural do lugar que se habita’, pois o significado está mais alinhado à ideia de pluralidade dos povos originários.”
- “Programa de índio: expressão de conotação negativa, que refere-se a algum evento ou ação que pode ser considerado entediante. Além de discriminatório, associar esse termo aos povos indígenas contribui com o apagamento das crenças e conhecimentos dessas comunidades.”
- “O Brasil foi descoberto em 1500: as invasões europeias, desde o século XVI, nas Américas foram devastadoras. Nosso país não foi descoberto, foi invadido e sofreu um extermínio de indígenas. Apesar dos dados não serem exatos, estima-se que, na época, havia entre cinco e dez milhões de indivíduos, e atualmente, o número foi reduzido para cerca de 900 mil povos indígenas no Brasil.”
Para ouvir:
👉Você sabe qual grupo étnico-linguístico indígena vive (ou viveu) na região onde você mora? Ouça aqui o podcast.
Para assistir:
👉 Entrevista com a artista Katú Mirim em que ela conta um pouco das vivências como mulher indígena e comenta algumas frases que ela sempre escuta e deveriam ser evitadas.