Foto: Polina Kovaleva “No Racism: Sem Racismo”
Ao longo do tempo, quantas vezes você já ouviu ou reproduziu expressões como “mercado negro”, “magia negra”, “lista negra”, “ovelha negra” e “a coisa está preta”? Mas, você já parou para refletir que, por trás disso, as palavras “negro” e “negra” são utilizadas para se referirem a algo ilegal, prejudicial e pejorativo?
Há outros termos inclusive que nasceram durante o período da escravidão e muita gente sequer imagina a história de humilhação e sofrimento que eles carregam consigo para a comunidade negra. Por isso, é tão importante fazer essa reflexão, pois ela é um dos primeiros passos que ajudam a promover a redução do preconceito e da discriminação raciais.
Aliás, quando o assunto é sobre ofensas e atitudes racistas, no contexto atual,
algumas ações vêm ganhando destaque. Recentemente, uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou injúria racial a racismo, considerando-a um crime imprescritível.
Enquanto isso no mercado de trabalho…
As pessoas negras compõem 56% da população brasileira. No entanto, a taxa de desocupação é de 26,1%, acima da média nacional de 11%. Esses dados do IBGE (2019) estão no artigo “Desigualdade racial e sustentabilidade: o papel das organizações”, escrito por Janaína Gama, Head de Educação Corporativa, da consultoria Mais Diversidade.
Segundo ela, “os salários para a população negra são desproporcionais e o alcance aos espaços de liderança também, apesar de entrar em grande quantidade nos processos de trainee, estágio e jovem aprendiz”.
Para Janaína, as empresas só têm a ganhar quando colocam em prática a igualdade racial, pois, de acordo com a última pesquisa da McKinsey (2020), ela gera um aumento de 33% na rentabilidade. “Isso porque em uma empresa diversa e inclusiva, as pessoas são mais criativas e inovadoras, o senso de pertencimento é grande e as pessoas se sentem motivadas a ficar ali e a contribuírem”, destaca.
“…a inclusão racial é boa para a sociedade. A pauta está alinhada à Agenda 2030 da ONU e ao desenvolvimento sustentável. O principal lema da Agenda é ‘não deixar ninguém para trás’, já que as pessoas são um dos principais pilares de um mundo que pretendemos deixar para as futuras gerações.”
Então, que tal fazer parte desse movimento e dar esse importante passo, começando com ações simples no seu dia a dia? Vamos lá?
“Fazer nas coxas”
Não use para dizer que algo está mal feito.
Origem: os negros escravizados moldavam as telhas de barro nas coxas. Como cada um deles era diferente um do outro, as telhas não se encaixavam.
“Doméstica”
Não use para se referir a quem realiza profissionalmente tarefas de casa.
Origem: os negros eram tratados como animais rebeldes e que precisavam de “corretivos”, para serem “domesticados”. As mulheres que trabalhavam dentro das casas eram consideradas domesticadas.
“Mulato (a)”
Não use para identificar alguém que é filho de preto com branco.
Origem: o termo mulato vem do animal, nascido de um cruzamento não convencional, entre jumento (burro) com égua, ou do cavalo com a jumenta. Diz respeito a um cruzamento entre animais diferentes. No entanto, segundo a historiadora Lita Chastan, autora de “Por que América?”, há estudos que apontam que o termo também pode ter vindo da cultura árabe: “muwallad/muwallad/mulato”, mestiço de árabe com não árabe.
“Meia tigela”
Não use para dizer que algo é medíocre.
Origem: os negros que trabalhavam à força nas minas de ouro nem sempre conseguiam alcançar suas “metas”. Quando isso acontecia, recebiam, como punição, apenas metade da tigela de comida e ganhavam o apelido de “meia tigela”.
“Da cor do pecado”
Não use como elogio.
Origem: se associa ao imaginário da mulher negra sensualizada. As negras escravizadas eram alvo do desejo sexual dos brancos, que diziam que a cor de sua pele e a forma de seus corpos induziam ao pecado. Aliás, simbolizavam a tentação do diabo, segundo os religiosos da época.
“Segurar vela”
Não usar: para se referir a alguém que acompanha um casal.
Origem: existia o costume de um escravizado segurar velas durante as relações sexuais de seus “senhores”.
“Nhaca”
Não use para se referir a algo sujo, mal cheiroso.
Origem: Inhaca é uma ilha africana localizada em Moçambique, de onde vieram os negros escravizados chamados de Nhaca.
”Tô ferrado”
Não use para dizer que algo deu errado.
Origem: os negros eram presos por correntes e coleiras de ferro, para se “acalmarem”, então a expressão “este está ferrado” diz respeito ao escravo que já havia sido torturado e não daria problemas. O ferro quente também era usado para marcar o corpo com a insígnia do seu “dono”.
“Denegrir”
Não use como sinônimo de difamar, falar mal.
Origem: significa “tornar negro”, como algo maldoso e ofensivo, “manchado” uma reputação antes “limpa”, branca.
“Criado-mudo”
Não use para dar nome à mesa que fica ao lado da cama.
Origem: muitos escravizados ficavam ao lado da cama dos “senhores”, à espera deles acordarem na madrugada para trazerem água ou outras coisas. Para não atrapalharem o sono, deviam ficar calados.
Fontes:
https://sedh.es.gov.br/Not%C3%ADcia/novembro-negro-conheca-algumas-expressoes-racistas-e-seus-significados
https://gente.globo.com/termos-racistas-que-devemos-cortar-do-nosso-vocabulario/
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