Lá vem o oitavo álbum de Britney Spears. E lá se vão 14 anos, desde quando a intitulada princesa do pop lançou seu primeiro disco, “Baby One More Time” (1999). E olhe só, ainda estamos falando dela.
Britney se tornou uma figura pertinente para a música ao definir um pop adolescente peculiar para a sociedade do espetáculo. E deixou descendentes: Selena Gomez, Miley Cyrus, Lady Gaga.
Depois de viver aos trancos e barrancos, no turbilhão de exposição midiática, ela agora volta mais branda, suave e madura. Mas será que isso tudo servirá para mantê-la?
Seu mais novo trabalho, “Britney Jean”, parece expressar e indagar exatamente isso. Desta vez, a musa quis simplificar o receituário pop e esbanjar singularidade.
O interessante é que Britney é uma artista com consistência, por mais que seus inimigos a acusem de não cantar direito, de não ter mais fôlego pra dançar e por se ancorar em efeitos sonoros nas canções. E isso é a mais pura verdade.
Limitações à parte, depois de Blackout (2007) ditar muitos dos parâmetros da música pop naquela época, Britney vem agora com o álbum mais pessoal da carreira. E mesmo sem ousadia, ele é gostoso de ouvir.
Claro que é mais um disco que fala sobre separação afetiva. Katy Perry fez o mesmo com “Prism”. Miley Cyrus com “Bangerz”. Ambos lançados neste ano. Parece que os corações das princesas do pop andam mesmo destroçados.
Ok, Britney não trouxe nada de novo, apesar de apresentar uma leve investida na black music, e que deu muito certo, por sinal.
Ela não se desesperou ao usufruir das batidas que não faziam parte da sua trajetória musical. Soube dar o tom certo pra não se sair esquizofrênica.”Tik Tik Boom”, em parceria com o rapper T.I, é exemplo disso.
Britney também faz um percurso pelo estilo eletrônico. “Passenger”, escrita em parceria com Katy Perry, é a canção em que a cantora se arrisca mais.
Vale ressaltar que o mérito é do produtor e DJ americano Diplo, devido à sua efervescência sonora. Além do mais, é uma música que pode soar estranha para os fãs.
“Chillin’ with you” se insinua muito bem como balada romântica, mas não se engane. Com pouco de R&B e outras batidas frenéticas, a canção se emerge camaleônica.
É o momento que soa mais coerente com a voz limitada da cantora. Entretanto, a parceria com a irmã de Britney, Jamie Lynn, é extremamente dispensável!
“Perfume”, escrita pela australiana Sia, é belíssima, e prova que Britney, agora, começa a se interessar em usar melhor a voz, trazendo uma outra sonoridade, bem mais madura. “Allien”, produzida por William Orbit, mostra o caminho certo pra ela seguir no futuro.
“Till is Gone” é feita para as pistas de dança, com uma pegada mais europop, e “Body Ache” é deliciosamente anos 90.
“Work Bitch” segue o mesmo ritmo, e, por outro lado, é bem mais comercial. Mas, mesmo assim, apesar da força sonora, mostra um esgotamento, pois é parecida com tudo se já surgiu por aí.
Talvez isso seja o efeito das mãos de Will.i.am (produtor executivo do disco) e de David Guetta.
Aí mora o pecado de Britney. Ao invés de ousar mais, ficou a mercê de um pop convencional, mesmo que sua marca esteja ao longo de todas as faixas.
“It should be easy”, parceria com Will.i.am, e mais uma vez, David Guetta, se constrói em uma sonoridade pasteurizada.
Apesar da voz da cantora soar bem mais natural, mesmo assim, há pitadas de vocoder e autotune em algumas faixas.
“Britney Jean” é melhor que “Circus” (2008) e “Femme Fatale” (2011). Mas, atenção! 2013 é um ano disputadíssimo para a música.
E com o incrível Matangi, de M.I.A, e o surpreendente Bangerz, de Miley Cyrus, ficar fazendo feijão com arroz, mesmo que a receita seja só sua, não basta pra marcar terreno, Britney Spears.