À primeira vista, “A aventura de Kon-Tiki”, que estreia, no dia 9 de agosto, poderia ser só mais um filme de aventura. No entanto, a história do legendário explorador Thor Heyerdal (Pål Sverre Hagen) revela um desafio, que, com certeza, vai colocar a fé deste desbravador em xeque.
Ao viajar com a esposa para as Ilhas Marquesas, na Polinésia, ele reúne hipóteses que indicam o povoamento do local por sul-americanos, e não asiáticos, como se acreditava na época.
Ao voltar para casa, encontra descrença geral dos colegas cientistas. Então, em 1947, o pesquisador resolve fazer o mesmo trajeto de mais de oito mil quilômetros, entre América do Sul e Polinésia, numa jangada, construída com madeiras e cordas, conforme há 1.500 anos.
É uma viagem que tinha tudo pra dar errado. Além de Thor não saber nadar, ele reúne mais cinco homens para expedição, sem qualquer conhecimento profundo de navegação. Entre eles, havia ainda um vendedor de geladeiras, que se torna a âncora prestes a deixar tudo estagnado.
O roteiro de “Aventura de Kon-Tiki” não tem muitos elementos bem amarrados. Como o Thor chegou à conclusão de que se deveria sair especificamente do Peru e não de qualquer outro país sul-americano? Na época, José Bustamante, presidente do país, não foi convencido de uma forma muito fácil a patrocinar tal aventura? Como Thor persuadiu os outros amigos a embarcarem nessa viagem?
Por outro lado, a trama acerta em não carregar a história com tantos dados empíricos. Mostra, na medida certa, como o grupo se orientou em alto-mar e como foi registrar, pela primeira vez, a existência de tubarão-baleia e peixe-voador.
O tema principal é a caravana do norueguês. Mas, no Brasil, o cartaz do filme vende uma ideia que não corresponde à temática. Nele, há imagem de um casal abraçado. O romance entre o pesquisador e sua mulher (que não participa da empreitada) só é pincelado no início e no final.
O filme é dirigido por Joachim Rønning e Espen Sandberg. Rønning foi responsável por “Bandidas”, de 2006, com Salma Hayek e Penélope Cruz, e vai comandar a próxima franquia de “Piratas do Caribe”. Pelo visto, “Aventura de Kon-Tiki” mergulha num mar de experiência para estes cineastas. Talvez seja a porta de entrada para produções mais hollywoodianas.
No decorrer da história, os diretores possuem uma suave sensibilidade em extrair cenas emocionantes dos momentos carregados ou de clichês ou de dados científicos.
A montagem é primordial para ajudar a ganhar mais qualidade estética. Quando fazem uso da elipse, um movimento de câmera pra indicar passagem de tempo, a dupla constrói uma das cenas mais belas e impressionantes do filme.
É no momento que os navegantes estão no mar, sendo vistos de cima, e a cena é direcionada para o espaço sideral, e depois volta para o oceano.
“A aventura de Kon-Tiki” causa surpresa até na precisão dos efeitos especiais. A produção, em parceria com Reino Unido, Noruega e Dinamarca, chegou a ser indicada ao Oscar, deste ano, na categoria melhor filme estrangeiro.
A jornada de Thor Heyerdahl também foi transformada em documentário, em 1951 (ele filmou a expedição para Polinésia). O filme ganhou a premiação na época. Até hoje, foi a única estatueta da Noruega na academia americana. Uma pequena prova que o cinema norueguês, mesmo tímido, não está afundado na inércia.