A célebre frase “os fins justificam os meios”, que resume um pouco o pensamento do italiano, Nicolau Maquiavel, vira um questionamento que cai como uma luva no documentário Wikileaks – Segredos e Mentiras.
Dirigido por Patrick Forbes, o pivô do filme acaba sendo Julian Assange, principal fundador da organização, que disponibilizou ao redor do mundo pelo menos 93 mil arquivos confidenciais de exércitos, embaixadas e governos.
No documentário entram também depoimentos de inúmeros parceiros que acabaram virando desafetos desse novo mito do século XXI.
O diretor consegue dar a dimensão exata do que estaria por trás do alvoroço midiático. Retoma passo a passo as etapas do acordo entre Assange e três grandes jornais estrangeiros (The Guardian, Der Spiegel e The New York Times). Mais adiante El País e Le Monde também fariam parte do clube seleto (é curioso nenhum jornal da América Latina ter feito parte disso).
Tal pacto girou em torno da divulgação do que teria acontecido com dois profissionais da Agência Reuters, que foram mortos pelas Forças Armadas norte-americanas na Guerra do Iraque.
E por incrível que pareça esse lamaçal só apareceu graças a um analista militar, Bradley Manning, que entregou os arquivos ao Wikileaks. Hoje ele se encontra preso nos Estados Unidos. Foi justamente outro hacker, Adrian Lamo, que o delatou às autoridades (outra história que dá pano pra manga também). Conforme o filme sugere é estarrecedor o que teria acontecido a esse jovem.
O Wikileaks não mudou só a relação de governos e embaixadas. A internet, a tecnologia, a informação e o jornalismo nunca mais foram os mesmos depois da bomba jogada pelos ares.
Apesar do documentário não entrar nessas questões, fica bem claro que esse processo põe em xeque vários valores jurássicos. Por que os diretores desses jornais optaram em dar o furo por meio da mídia impressa e não pela internet? E eles acabaram sendo ultrapassados por um blog que divulgou tudo antes.
Que interesses estavam por trás dessas empresas jornalísticas? Tempos depois elas se voltaram contra Assange. O principal motivo era o fato do ativista em querer divulgar, de uma só vez, todo o material que tinha em mãos, inclusive os nomes das fontes envolvidas.
Seria muita ingenuidade acreditar que os donos dos jornais só queriam ter tempo para checar todas as informações, porque pensavam nas terríveis consequências ou na ética jornalística de proteger algumas fontes.
Aliás, a queda de Assange, que de herói passou para vilão, é digna de roteiro hollywoodiano (e realmente vai virar filme). Não se sabe ainda se ele é ativista vítima de um jogo nefasto ou se o feitiço tinha virado contra o próprio feiticeiro.
Acabaram surgindo denúncias de que ele é suspeito de ter estuprado duas mulheres. Só que justamente o baluarte do Wikileaks teria feito de tudo para que a verdade não viesse à tona. Ele acabou acusando os Estados Unidos de conspiração.
É nesse ponto que o diretor Patrick Forbes mostra certo talento no documentário. A partir dos depoimentos, ele constrói essa ideia de um grande ativismo em Assange. Mas isso dura só até a metade do filme.
O discurso vai se alternando até construir outro lado que poucos conhecem. Sobram farpas até mesmo do seu ex-parceiro de Wikileaks, Daniel Domscheit-Berg.
Há de se ressaltar também o poderoso poder na mão de Forbes em editar as falas de seus entrevistados. Percebe-se que nos momentos dados a Julian Assange suas respostas se tornam um pouco evasivas. Mas, mesmo assim, é admirável o trabalho do diretor, por botar a mão nessa fogueira das vaidades.