Pessoas que deixaram de ser elas mesmas sem perceber. Essa é a intrigante amarra do livro, A Visita Cruel do Tempo, de Jennifer Egan.
A obra, ganhadora do Pulitzer, em 2011, é cruel com o leitor, assim como sugere o título. Se no ditado popular, o tempo cura tudo, para a autora ele não é tão amistoso assim. É arrebatador mesmo.
Um grupo de amigos monta uma banda, realidade bem típica em qualquer momento da vida de alguém ou de um conhecido. Mas o foco da trama é como a decisão de cada um dos integrantes, em determinado momento, atinge outras pessoas ao redor.
Numa teia de questões existenciais, Jennifer é uma aranha articulada e vai construindo outras histórias paralelas que levam a uma crítica sagaz à indústria cultural, ao jornalismo, às mídias digitais e ao mundo das celebridades.
A trama faz uma viagem desde os anos de 1970 até um futuro em que teremos o ápice da infantilização da indústria musical. E a cada dia não temo como dar credibilidade à autora com essa previsão apocalíptica.
Jennifer Egan mergulhou fundo nestas particularidades do nosso tempo e resgatou personagens complexos, incrivelmente massificados.
A Visita Cruel do Tempo não é um livro fácil. O que tempo pode fazer com jovens que não conseguem seguir e nem mesmo comandar o próprio destino? O que vão arcar nos próximos 20, 30 anos, com as decisões do passado e do agora?
Se por um lado, o livro se distancia um pouco da narrativa tradicional, por outro, ele foge do senso-comum e não dá respostas simplórias para angústias da vida.
A autora brinca com a narrativa e a adapta às características dos seus personagens. O leitor que não se assuste, pois vai se deparar com textos esquematizados por organogramas e até em segunda pessoa
Os seus mais de 25 personagens ganham destaque por justamente serem secundários na trama. E mostram como é difícil reconhecer a repetição de erros durante a vida e árdua tarefa de amadurecer.
E que fique um alerta: se a morte vem com uma foice, o tempo pode vir muito bem a cavar a cova.