Dá para perceber que Hollywood vem sofrendo uma crise séria. Não, não é essa que assola o mundo financeiro na Europa e nos EUA.
Pelas aparências, parece que nesse lado do caixa tudo vai bem por lá, basta olhar o dinheiro que os produtores vêm ganhando nas bilheterias nos últimos tempos.
Mas o que dizer das histórias que são contadas nas telonas? É um remake atrás do outro.
E dá-lhe continuações (só no ano passado os sites especializados apontam que foram 27). Mesmo quando o assunto é sobre sequências, até que elas têm mostrado um esforço maior na busca pela originalidade (isso não quer dizer que algumas tenham conseguido).
Nada mal para quem vem conseguindo trazer um fio condutor sem perder o fôlego. É o caso de Madagascar 3, e agora A Era do Gelo 4. Ambas produções que estrearam neste ano.
A Era do Gelo 4 parece trazer mais uma história do esquilo famoso que corre atrás da noz ou da trupe de animais perdidos e atormentados pela Era Glacial. Sim, vamos ver isso novamente.
Mas são as personagens coadjuvantes que roubam a cena. E não é que esta quarta sequência trouxe incríveis sutilezas e piadas inteligentes? Arrisco dizer que tem até o primeiro beijo gay em animação blockbuster.
Desta vez, não temos a presença do brasileiro Carlos Saldanha que participou na condução dos três primeiros filmes. Portanto, o restante da produção não fez feio.
Se os efeitos visuais já encantam por si só, há de se ressaltar a didática usada para explicar o surgimento da formação dos continentes atuais.
Bagunça divertidíssima causada pelo esquilo Scrat e que vai desencadear todo rumo da história. E sem contar a ótima alusão à Atlântida presente no final da trama.
A Era do Gelo 4 é mais um exemplo de como abusar da maior capacidade do desenho animado: a realidade fantástica.
É nítido ver também as referências aos Looney Tuneys e sobra até homenagem ao grande vilão da saga Piratas do Caribe.
Por outro lado, A Era do Gelo 4 poderia ter desenvolvido melhor um ponto que os diretores Steve Martino e Mike Thurmeier abordaram no início da trama, que é a delicada questão de como a sociedade trata o idoso.
Isso se perdeu ao longo da história. Talvez teria sido a carga dramática pra contrabalancear o lado cômico.
A personagem marcante, a avó do lendário bicho-preguiça Sid, é o tesouro dessa sequência. Há de se aplaudir a brincadeira dos diretores em usar o hábito da velhinha banguela, em pedir toda hora ao Sid, pra mastigar uma fruta pra ela.
Isso comprova que tão pouco quiseram também vitimizar o idoso, mesmo nos momentos em que se percebe afiadas alfinetadas ao nosso tratamento com os velhinhos.
E uma surpresa deliciosa: um curta-metragem imperdível dos Simpsons, The Longest Daycare, é exibido antes do filme.