Um filme que conquista pelo roteiro e pelos seus personagens. É a receita simples de A Leste de Bucareste (Corneliu Porumboiu, 2006).
Uma comédia com forte teor político e irônico que narra um fato recente significativo na história da Romênia.
Um programa da TV local quer vasculhar os momentos ocorridos há 16 anos na Romênia. O objetivo é descobrir se o ditador Nicolae Ceaucescu fugiu antes ou depois que as pessoas tomassem as ruas.
O contexto é revolução deflagrada no país da Europa Oriental. Para o debate ao vivo, são convocados dois homens de temperamentos distintos.
O programa, porém, segue um percurso diferente quando a dupla começa a falar sobre o fato. Assim como em países vizinhos, em 1989, a maior parte da população romena estava insatisfeita com o regime comunista.
As políticas econômicas de Ceauşescu causavam desgosto na polução, e a polícia secreta (Securitate) tornou-se algo semelhante a Gestapo.
Abriu-se o caminho pra chamada Revolução Romena, ou seja, uma série de tumultos e protestos durante uma semana, no final de dezembro de 1989, que derrubou o regime comunista.
Segundo alguns historiadores, o processo culminou no momento que outras nações do leste europeu faziam uma transição tranquila para a democracia.
Mas a falta de contextualização didática não prejudica o filme. O diretor consegue nos dar um pouco da dimensão do que teria sido todo aquele período.
O destaque é como se constrói a história e como ela é contada para o espectador. Somos apresentados, de forma bem gradativa, a cada um dos personagens: Jderescu (Teodor Corban) é o apresentador de temperamento estável e um típico tirânico que faz o contato com os demais entrevistados.
Manescu (Ion Sapdaru) é o professor de história alcoólatra que se equilibra em acertar suas dívidas e a implicar com um imigrante chinês que vende fogos de artifícios e bombinhas para crianças. Piscoci (Mircea Andreescu), um personagem hilário que passa o dia decidindo que roupa de Papai Noel deve usar.
E nota-se claramente a grande perda de identidade, o transparente conflito e angústia que vive a nação depois deste marco histórico.
E Corneliu Porumboiu dá boas alfinetas nos próprios romenos, mostrando como vasta a falta de tolerância com o outro já chegou ao ponto de uma cegueira tenebrosa.
Cidadãos eternamente a serem customizados entre dominador e subordinado. Porém, a narrativa arrastada pode causar desconforto, mas A Leste de Bucareste consegue subtrair isso e dar bons resultados.