Aproveitando o mês em que se comemora o Dia dos Pais, confira as reflexões sobre paternidade no longa-metragem “O filho eterno”.
Dirigido por Paulo Machline e baseado numa história verídica, a trama do filme retrata a jornada de um pai de primeira viagem e o nascimento do seu bebê com síndrome de Down. O protagonista também terá que lidar com o medo, as incertezas, a insatisfação e a vergonha que o rondam, durante os anos de desenvolvimento da criança.
Os convidados do programa são o economista José Ricardo de Moraes Lopes e o professor Edmar Dias Nascimento. Ambos são pais e relataram suas experiências pessoais relacionadas à paternidade e, também, abordaram questões filosóficas e sociais que englobam a temática do filme. Ouça o podcast:
A produção, a apresentação, a mediação e a edição do podcast são de autoria do jornalista Átila Moreno. O conteúdo também é publicado como parte das ações de Diversidade e Inclusão da empresa onde atua. Esta edição exibe trechos do filme “O filho eterno”, que está disponível nos canais de streaming Netflix e Globoplay. Classificação indicativa: 14.
Outras visões sobre paternidade no filme
A seguir você vai conferir a entrevista com Sérgio Peixoto e Vinicius Sampaio. Ambos são analistas ambientais. Um já vive a paternidade no dia a dia e outro almeja ser pai.
Átila Moreno – Qual perfil de paternidade podemos encontrar ao longo da história?
Sérgio Peixoto – É o perfil de um pai que vê, no nascimento de seu filho, a esperança para uma mudança completa de vida e que se desespera ao descobrir que ele é portador de síndrome de Down, mostrando-se completamente egoísta e despreparado diante de uma situação tão delicada que necessita de muita atenção, carinho e amor.
Vinicius Sampaio – O filme se passa nos anos 80, e o modelo de paternidade é nitidamente machista e pouco participativo. A síndrome de Down ainda era considerada como “mongolismo” e, em diversas cenas, prevalece o sentimento de angústia diante das atitudes do pai da criança. Atualmente, tenho observado que a sociedade vem estimulando os modelos de paternidade mais afetivos e cooperativos.
AM – Você se identifica em algum ponto com o personagem Roberto (Marcos Veras)?
SP- Identifico-me com o personagem quando o mesmo descobre o quanto ama seu filho e muda completamente seu modo de agir, pois o amor é transformador. Da mesma forma, o amor, que senti no nascimento dos meus filhos, transformou completamente os meus valores e o sentido da minha vida.
VS – No final do filme, após passar por um grande susto, o Roberto se envolve emocionalmente com a criança por meio do futebol, pois a celebração durante uma Copa do Mundo, o aproxima afetivamente da criança. O futebol também é muito presente em minha família e, embora eu ainda não seja pai, acho que o esporte será um dos importantes vínculos no meu exercício de paternidade.
AM – Quais cenas chamaram mais a sua atenção?
SP – A cena em que o personagem do pai pergunta ao médico se não poderia “consertar” seu filho. Ele o vê como uma espécie de objeto ou máquina defeituosa e pesquisa em livros científicos algum tipo de cura, como se fosse algo possível. É muito impactante e deprimente essa colocação. Outra cena que chamou minha atenção foi que, no momento em que sua esposa e seu filho mais precisaram de sua atenção e suporte, considerando a dificuldade financeira que a família enfrentava, ele se envolve com uma amante, fugindo da sua própria realidade. Por fim, me impressionou o desaparecimento de seu filho, ocasião na qual o pai começa a se encontrar e perceber o quanto o ama.
VS – Muitas cenas me impressionaram. Uma delas é quando o pai, na aula de natação infantil, ao ser questionado sobre quem era seu filho na raia, aponta para uma outra criança, por nítida vergonha. Outra cena é quando Roberto descobre na literatura que muitas crianças com síndrome de Down costumam apresentar pequena expectativa de vida (cena muito chocante, pois o pai se mostra contente com a descoberta).
AM – Qual a principal mensagem que o longa-metragem deixa para você?
SP – A transformação de um pai completamente perdido em seus valores, que reencontra o sentido da sua vida no amor pelo filho justamente na iminência de perdê-lo, superando qualquer preconceito ou discriminação. O filme foi certeiro ao tratar o tema das pessoas que possuem necessidades especiais no contexto familiar com total realismo.
VS – De que precisamos aceitar as pessoas como elas são. Respeitando suas características, seus atributos, sua personalidade e suas escolhas pessoais. O mundo precisa de mais empatia e respeito. Outra grande lição do filme é de que todas as crianças apresentam diferentes preferências por brinquedos e atividades, independentemente da faixa etária. Sendo muito interessante também quando os pais observam o perfil e tentam adaptar a rotina para conciliar o lazer, junto aos deveres dos filhos. Em diversos momentos, é evidente o esforço da mãe e o total descaso do pai em relação a essa perspectiva.
AM – Na sua visão, é possível construir hoje uma sociedade mais inclusiva por meio de novos modelos de paternidade? Como?
SP – Sim. Acredito que, quando pautada pelo amor e dedicação, a paternidade torna qualquer transformação social possível.
VS – Sim, totalmente! Por meio de ações afirmativas e maior diálogo. O conhecimento é a principal ferramenta contra o preconceito e a ignorância. Quanto maior o envolvimento dos diferentes agentes e setores da sociedade, melhor será a resposta da coletividade, que a cada dia reconhece os novos modelos de paternidade como fundamentais para a cidadania e para o estímulo à qualidade de vida.