Já diz o ditado que família só é boa no porta-retrato. Repassar essa ótica para o público tem sido uma aposta do cinema norte-americano há anos.
Hollywood vem conseguindo dar um panorama das relações familiares nos mais diversos tipos de filmes. São várias produções que dissolvem até mesmo uma ideologia por trás dos costumes daquele país.
Exemplos não faltam. Só para citar alguns: Minha Mãe é Uma Sereia (Richard Benjamin, 1990), Beleza Americana (Sam Mendes, 1999), Os Excêntricos Tenenbaums (Wes Anderson, 2001), Tudo em Família (Thomas Bezucha, 2005) e Pequena Miss Sunshine (Jonathan Dayton e Valerie Faris, 2006).
No entanto, Álbum de Família, de Jonh Wells (da série ER), talvez seja o filme mais cruel e ácido relacionado ao tema.
A história central pode sugerir um assunto aparentemente banal e já visto nas telas. Filhos que retornam para o lar, após a morte de algum parente.
Como num álbum de família, nada é o que parece para os Wetsons. As três filhas Barbara (Julia Roberts), Ivy (Julianne Nicholson) e Karen (Juliete Lewis) se deparam com o desaparecimento do pai e voltam para terra natal.
Dividindo o mesmo teto, elas terão que enfrentar uma mãe maquiavélica, rancorosa, temperamental, viciada em pílulas e com câncer, interpretada incrivelmente por Meryl Streep.
Violet Weston é uma matriarca que, ao lado da irmã, Margo Martindale (a ótima Mattie Fae Aiken), conduziu a família a ferro e fogo.
Com a volta das filhas, neta, genros, cunhados e primo, segredos virão à tona diante de pessoas presas ao passado e que deixaram as raízes fincadas naquele lugar.
O diretor usa de alguns momentos cômicos e da fotografia, priorizando lindas paisagens das pradarias de Oklahoma, para equilibrar tamanha tensão na história. E ainda traz uma alusão ao excessivo calor dentro da casa, para configurar a carga explosiva dos personagens diante daquele inferno.
Jonh Wells fez um trabalho grandioso. Conseguiu dar um destaque inacreditável para um elenco talentosíssimo, conduzindo atores principais e, também, os coadjuvantes como Ewan McGregor, Abigail Breslin, Chris Cooper, Benedict Cumberbatch e Shan Shepard.
Wells soube aproveitar um material precioso. O roteiro do filme é de Tracy Lets (da série Prision Break), que adaptou a própria peça August: Osage Couty, vencedora do prêmio Pullitzer. O texto afiado permanece e as atuações não beiram ao dramalhão novelesco, com uma trama que traz suspense, reviravoltas e uma complexidade na construção dos personagens.
Nesse último quesito, Wells é perspicaz. No momento que se odeia determinado personagem, em seguida, o mais apressado em julgá-lo será surpreendido por um grande segredo, que o fará mudar toda interpretação dos fatos.
Um exemplo disso é a cena do jantar em que todos estão reunidos em volta da mesa. Meryl Streep arrebata numa atuação magnífica. É uma parte pesada, em que Violet é terrivelmente diabólica e angelical com seus parentes.
Vale dar o devido mérito também para Julia Roberts que, no currículo, traz momentos altos como em Flores de Aços (Robert Ross,1989), Erin Brokovitch – Uma Mulher de Talento (Steven Soderbergh, 2000) e Closer – Perto Demais (Mike Nichols, 2004). No filme, ela duela, par a par, com Meryl Streep, inclusive numa cena visceral, que figura o cartaz do filme.
Álbum de Família é a fotografia fiel de muitos lares. Difícil é mirar um foco, já que todos ali estão posicionados de maneira coerente com fardo que carregam.