A magia por trás do novo filme de Steven Soderbergh, Magic Mike, deslancha mas chega a ser ilusória. Talvez o feitiço possa ter virado contra o feiticeiro.
Não que Magic Mike seja um filme totalmente ruim. Na verdade, ele é um filme problemático em si. Esperava-se mais de uma película rodada pelas mãos de Soderbergh.
O diretor escorregou na pista ao contar a história de Mike (Channing Tatum, que era stripper antes de virar ator), um dançarino erótico que entra em conflito filosófico com a própria carreira. O filme é levemente baseado na vida dele.
Magic Mike até que apresenta alguns acertos. A montagem quase sempre se constrói em sequências em que se termina uma cena com um próximo diálogo que ainda está por vir. Isso dá fluxo na história que ao longo da trama vai se apresentando arrastada demais.
Há uma naturalidade nas cenas de sexo que trazem enquadramentos um pouco ousados. A fotografia também entra nesse roll e ajuda a dar um ar de glamour, mas prestes a ser desmascarado.
Infelizmente, o roteiro de Reid Carolin não segue o mesmo caminho e pontua várias nuances que mereciam uma reflexão mais aprofundada e menos moralista. Mike apresenta uma dualidade posta em xeque, entre escolher ou não continuar a carreira no universo de sexo, drogas e mulheres. E lá vai Hollywood engrenar o filme com desfecho de comédia romântica barata.
Sobrou até para amiguinha de cama de Mike. Aquele destino dado a Joanna (Olivia Munn), além de cair de paraquedas na trama, soa como cartilha dos bons costumes da sociedade norte-americana. Se foi a intenção do diretor dar uma alfinetada nesse ponto, faltou colhões de sua parte.
Por um lado, causou surpresa ver o rumo do parceiro de palco de Mike, o personagem Adam, vivido por Alex Pettyfer. Aliás uma das poucas conclusões que ficam coerentes e bem amarradas no final da trama.
Entre os buracos do roteiro está o fato de Mike não conseguir abrir o próprio negócio, mesmo tendo na garagem uma caminhonete que provavelmente vale mais que a própria casa.
Por mais que o elenco que não venha regado de grandes interpretações, os rapazes dão conta do recado e desfiam muito bem as caricaturas que seus personagens exigem. Para a mulherada e os gays é um espetáculo a parte ver Mathew McConaughey, Matt Bomer, Joe Manganiello e companhia se movimentarem no palco.
Do ponto de vista sociológico, Magic Mike traz uma coragem em inverter o papel de homem e mulher quanto o assunto é sexo. É o único quesito em que o filme avança por não ter pudor em mostrar que as mulheres podem se divertir e desejar sexualmente os homens.
Entretanto, Magic Mike realmente seduz mas só vai até certo ponto. Nada mais que isso.