Você sabia que 2 de abril marca o Dia Mundial do Autismo? A celebração da data foi criada pela Organização das Nações Unidas em 18 de dezembro de 2007, para ajudar na conscientização sobre o tema.
Em 2022, o tema da campanha no Brasil é “Lugar de autista é em todo lugar!“, com a hashtag #AutistaEmTodoLugar nas redes sociais. E faz sentido, já que há um estigma de que pessoas autistas só pos exercer alguns tipos de atividades no ambiente corporativo. E não é bem assim, viu.
Quem aponta outras direções é Marcelo Vitoriano, psicólogo, especialista em Terapia Comportamental Cognitiva em Saúde Mental e atuante na formação e inclusão de pessoas autistas no mercado de trabalho.
Ele é o entrevistado do podcast do Mais Diversidade. No programa, são abordados a importância do diagnóstico, a carreira para os profissionais autistas e como as empresas podem atuar na inclusão dessa comunidade.
Confira alguns trechos da entrevista.
O que é Neurodiversidade
“Quando a gente fala de neurodiversidade, a gente fala de pessoas que tiveram
um desenvolvimento neurológico diferente da população como um todo,
e que esse desenvolvimento atípico trouxe algumas características para essas pessoas.”
Termo guarda-chuva
“Para além do autismo, temos outras condições, como por exemplo, o TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção. Por exemplo, hiperatividade, que, também, entra no escopo da neurodiversidade, como as pessoas com dislexia…Então, a gente tem esse grande guarda-chuva…”
Qual palavra usar?
“As pessoas com autismo ou pessoas autistas são os termos que achamos mais adequados. As pessoas entram no escopo da neurodiversidade, então, o autismo traz algumas características de dificuldade de comunicação e interação social e alguns outros comportamentos.”
Níveis de autismo
“Você tem pessoas com autismo moderado, que são pessoas que já têm uma certa autonomia. Elas conseguem ser mais independentes. E você tem as pessoas com autismo leve. São pessoas, sim, que têm dificuldade de comunicação e interação social, mas são completamente autônomas. São pessoas que estudam, podem formar uma família, onde as questões de comunicação e interação são menos severas.”
Espectro autista
“Quando a gente fala do espectro, é porque ele é muito amplo mesmo. Também, dentro dele, podemos ter uma pessoa com uma deficiência intelectual associada, podem ter outras comorbidades, pra além do autismo. As pessoas com autismo são muito diferentes, únicas.”
“Antigamente nós tínhamos o conceito de Síndrome de Asperger, que eram pessoas com autismo de alto funcionamento, com altas habilidades também. Então, na última revisão que a Sociedade Norte-americana de Psiquiatria fez desse conceito, de que ele era separado, hoje não é. Ele está dentro desse espectro como um todo.”
Diagnóstico
“Quanto mais cedo a gente tiver esse diagnóstico preciso, mais cedo a gente começa com as intervenções. A gente sempre orienta se existe uma suspeita, se você percebe traços diferentes no seu filho, se seu filho tem um atraso na comunicação. Se é uma criança mais quieta, não acompanha o olhar do outro, enfim, em algumas situações como essa, é importante procurar um neurologista, um psiquiatra, que seja especialista nessa área…”
“…Também psicólogos, neuropsicólogos, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo. Uma equipe multidisciplinar é inteiramente necessária para que a criança já tenha uma intervenção precoce. ”
Homens x mulheres
“…as meninas têm uma dificuldade maior no diagnóstico. Principalmente, se são meninas com autismo leve. Porque existe um contexto social onde as meninas apresentam algumas características e comportamentos como dificuldades de comunicação, onde a família entende que ela é daquele jeito mesmo, que ela não tem nada.”
“E as meninas aprendem a responder esses estímulos sociais, de acordo com o que a sociedade espera. De uma certa forma, existe um mascaramento do diagnóstico. Então, é muito comum as meninas com autismo leve terem um diagnóstico na vida adulta.”
Desafio das empresas
“O maior desafio é o desconhecimento do potencial dessas pessoas. E quando a gente fala de desconhecimento, a gente fala da questão da neurodiversidade e das características das pessoas com autismo terem um conhecimento que a empresa como um todo precisa começar a olhar.”
“É extremamente necessário a gente preparar o time que vai receber esse profissional através de workshops, de informação, para que a pessoa seja acolhida de uma forma adequada.”
“Geralmente, as pessoas com autismo leve apresentam uma capacidade de raciocínio lógico, elas trabalham muito bem para identificar padrões, erros. São pessoas que têm o raciocínio lógico muito apurado.”
“Se você tem uma pessoa que trabalha com teste o dia inteiro, testes de sistemas, testes de software, enfim, muitas pessoas com autismo gostam desse tipo de tarefa. Porque requer constância, concentração…isso é um pequeno recorte, pois existem pessoas com autismo que podem trabalhar em diversos setores.”
“Então, eu não gosto muito de segmentar…eu conheço psicólogo autista, pessoas trabalhando na área de marketing..recebi ontem um documentário feito por duas autistas.”
Para saber mais do bate-papo com o Marcelo Vitoriano, ouça o podcast Neurodiversidade.
Para assistir:
Atypical – criação: Robia Rashid (2017)
O seriado acompanha o dia a dia de um jovem autista em busca de sua própria independência, inclusive a missão de arrumar uma namorada e o complicado e divertido relacionamento com a própria família. Disponível: Netflix. Classificação indicativa: 14.
O amor no espectro – (2020)
A série australiana, em formato de documentário, acompanha um grupo de adultos solteiros com espectro de autismo e suas relações afetivas. São encontros rápidos ou às cegas em que eles lidam com namoros, amigos e familiares. Disponível: Netflix. Classificação indicativa: 10.
Para ouvir:
Introvertendo – autismo por autistas
Podcast sobre autismo apresentado por autistas com discussões sobre o tema, além de saúde mental, cidadania, cultura e inclusão. Ouça aqui!
Para ler:
O que é que ele tem, de Olivia Byington
Livro de memória da cantora Olivia sobre um dos seus filhos, João, que tem Síndrome de Apert e é meio-irmão do jornalista, apresentador e escritor Gregorio Duvivier.
Revista Autismo
Em 2019, a publicação fez uma parceria com o Instituto Maurício de Sousa. A cada edição, um tirinha destaca a participação de André, personagem autista, que, há alguns anos, faz parte das histórias da Turma da Mônica. Clique aqui para saber mais.